CARNAVAL

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No mês de janeiro de 1964, alguns componentes da escola ensaiavam no Acadêmicos do Samba, e lá tentaram introduzir um novo ritmo que as escolas do Rio de Janeiro já haviam criado, e que as escolas de Porto Alegre e Pelotas aderiram rapidamente. Era um ritmo mais quente e mais envolvente, onde o já cansado samba de morro mais compassado, estava entregando o seu lugar, com glória diga-se de passagem. Nos Acadêmicos não foram bem recebidos com este novo ritmo, havendo um conflito muito grande com alguns dos seus dirigentes, resultando no rompimento com esta escola de samba, de um dos seus maiores baluartes, o Miro Barboza ou Miro da Cuíca; vindo para a Vila Brasil neste mesmo ano.
Acredita-se que este incidente tenha cooperado para o ressurgimento da Vila Brasil nos desfiles das escolas de samba da cidade. Em mais ou menos 20 dias antes do carnaval de 1964, houve uma reunião na casa dos irmãos Musico e Doca, para tratar da criação possivelmente de uma nova escola, uma vez que a Vila havia encerrado suas atividades. Mas o Agenor mostrando e oferecendo o estandarte da Vila Brasil e alguns instrumentos da escola, convenceu a todos na proposta da Vila voltar ao carnaval. Na realidade era o que todos queriam. Participaram entre outros desta histórica reunião: Agenor, Musico, Doca, Antoninho, Assis, Paulo Caruncho, Ari Bibiano, Edson Sapo, Leandro, Nêgo Fula, Franco, Osman, João Cacha, Glenir, Namir, Miro Barboza, Valter Fuão, João Macaco, Vândi, Sérgio Banda, Antão Natel, Hamilton, Edu Alfaiate, Jairo Lima, Jorge do Cavaco, etc, etc. A casa ficava na rua Silva Jardim à esquerda na direção bairro-centro, próxima à esquina com a rua Barão do Triunfo.
Neste pequeníssimo espaço de tempo até o carnaval, a Vila voltou a ensaiar, preparando-se para o desfile de fevereiro de 1964. Os ensaios foram no Clube 13 de Maio, que gentilmente cedeu suas dependências para a escola, uma vez que a maioria dos seus componentes eram associados ao clube. Neste ano de 1964 a Vila desfilou sagrando-se pela primeira vez campeã do carnaval de rua de Santa Maria. Inovou na bateria com o ritmo novo, sob o comando do Edson Sapo na bateria. Trouxe cavaquinho e violão (Jorge do Cavaco e Piúga), e pela primeira vez também uma escola canta sua própria música em Santa Maria, era uma marcha-rancho homenageando a própria Vila, de autoria do Clio Paulo, cria do bairro e vindo a tornar-se grande músico das noites de Porto Alegre. O Doca revelou-se aí um grande passista vindo em breve juntar-se a ele, o excelente Willy, negrinho que morava em Canoas, sobrinho do Seu Taurino, presidente do 13 de Maio. Outros excelentes passistas (remelexos) surgiram naquela época.
A marcha-rancho era uma música exclusiva dos ranchos, mas como ainda havia uma influência muito grande destes nas escolas, a Vila após o desfile no centro, voltava ao bairro e fazia um desfile na Visconde de Pelotas para o pessoal dali, abrindo este desfile cantando algumas marchas-rancho, o Agenor com o seu vozeirão comandava estas apresentações na Vila Brasil. Nós encerrávamos com a marcha-rancho do Clio Paulo, em frente da casa da dona Vitória, que nos esperava com uma talha de bule e bastante frios, doados pela vizinhança, principalmente pelo ten. Nonoay (major da reserva mais tarde) e sua esposa dona Heloísa. A voz do Agenor ecoava em todo o bairro, apesar de não dispor dos recursos tecnológicos de hoje, como microfones, caixas de som, etc. Podemos afirmar que além de ser o grande fundador da escola, e seu primeiro presidente, foi também com méritos o nosso primeiro intérprete como afirma categoricamente o nosso grande Jamelão, e não puxador de samba conforme o que diz a mídia atual e a maioria das pessoas.
O estandarte da escola tinha as cores azul e branco e no desenho trazia um casal de negrinhos: um batuqueiro com um pandeiro e uma pastora vestida de baianinha em frente à duas casas (chalés) representando a Vila Brasil, bairro que lhe emprestou o nome. Durante o ano de 1964, após o carnaval, houve algumas reuniões polêmicas com os dirigentes da escola, resultando na mudança das cores para o vermelho e branco.
No carnaval de 1965 a escola desfilou com as novas cores. Neste desfile a Vila inovou o carnaval de rua da cidade, trazendo muitas pastoras para a avenida, tornando-se bi-campeã do carnaval. A Vila começava a mudar os desfiles das escolas em Santa Maria. Destaca-se a partir deste ano, a presença da dona Ida, que durante os desfiles comandava a parte feminina com mãos de ferro. A dona Ida é mãe do Dorval e da Marina, ele mais tarde se tornaria um grande mestre de bateria e a Marina no ano seguinte torna-se o primeiro e grande destaque das escolas na Boca do Monte.
No ano de 1966, no começo de janeiro, houve alguns problemas com o Clube 13 de Maio, no que diz respeito aos ensaios realizados naquela sociedade, alguns diretores não aceitavam mais a permanência da escola no clube, havia um certo preconceito com as escolas de samba, principalmente quando o quadro de componentes da Vila tinha aumentado em muito, e alguns dos seus componentes não eram associados do 13 de Maio.
Neste ano, no mês de janeiro, o Agenor, que era o presidente da Sociedade Elite na Vila Oliveira, levou a Vila Brasil para lá. Em 1966 a Vila fez um dos maiores desfiles da sua história. Trouxe para a avenida o primeiro grande destaque, a Chica da Silva, representada pela Marina, que fez junto com a escola, um dos seus melhores desfiles. Apresentou a primeira alegoria, o “Portal do Teatro”; a primeira comissão de frente, formada por Ari Bibiano, Altamiro Brigada, Agenor, Leandro Setembrino, José Azevedo (Musíco) e Edu Alfaiate. Sagrando-se brilhantemente tri-campeã da cidade. Nunca até então, nenhuma escola em Santa Maria tinha apresentado tudo isso. O mestre de bateria foi o Edson Sapo.
Nesta ocasião, ainda em fevereiro, a Vila fez a primeira excursão da sua história, foi à cidade de Santo Ângelo, conseguindo aí o seu primeiro título fora de Santa Maria, num concurso entre escolas de samba daquela região. Logo após o desfile de carnaval em Santa Maria, A Vilas fez outra excursão, desta vez à vizinha cidade de São Pedro. Neste carnaval desfilou a primeira rainha da escola, a Maria; prima do Musico e do Doca. Na época a rainha carregava o estandarte da escola.
Em ocasiões diferentes durante os ensáios da escola em 1966, já no Elite, tivemos as ilustres visitas de dois grandes nomes do carnaval de rua de Porto Alegre: Pernambuco, carnavalesco do Trevo de Ouro e o Plauto, diretor de bateria dos Imperadores. Ambos ensaiaram a Vila nestas ocasiões. Presidente: Musico; carnavalescos: Osman, Paulo Caruncho, Agenor, Antoninho; Mestre de bateria: Edson Sapo.
Em 1970 voltou a brilhar sob a batuta do Osman e da Teresa, sagrando-se campeã do carnaval. Trouxe o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira para a avenida, o Osman e a Elza. Como novidade também, veio para o desfile da Vila, o primeiro puxador de samba da escola após o Agenor, foi o Celso dos Correios, tornando-se mais tarde um grande músico da cidade. E para completar, surge no desfile o primeiro grupo de baianas organizado e comandado pela Leonor. Ensaios no Clube Elite. Presidente: Osman; figurinista: Teresa; Mestres de bateria: Renatinho e Dorval.
Em 1973, a Vila Brasil através do Osman, começou a mudar novamente o desfile das escolas de samba na Boca do Monte. De sua autoria o tema-enrêdo “Mãe África” ou “Zumbi dos Palmares”, a escola veio para a avenida pela primeira vez nos desfiles oficiais com tema-enrêdo e samba-enrêdo, que também foi autoria do Osman. Junto com o excelente trabalho da Teresa e sua equipe, a Vila foi a grande campeã. A observação que se faz aí, é que, em meados deste mesmo ano, o prefeito da cidade, Dr. Pfeiffer, criou um comissão de carnaval, composta por elementos de proa no mundo social, cultural e político da cidade, tais como: O vice-prefeito na época, Dr. Farret; o teatrólogo Freire Júnior; o radialista Arnaldo Souza; o professor médico-veterinário e radialista Quintino de Oliveira; o acessor da Prefeitura e colunista de A Razão, Júlio Monteiro; e o vereador João Gilberto Lucas Coelho.
Esta comissão tinha como principal objetivo, criar uma infra-estrutura para que as escolas pudessem de uma vez por todas participar do desfile de carnaval sem precisar da dependência econômica, quase que exclusiva da Prefeitura Municipal, e que a partir daí pudessem caminhar sozinhas. A comissão conseguiu organizar apenas um show para as escolas, cujos ensaios eram no Clube Treze de Maio, ficando para a apresentação final no cine Independência. A Vila apresentou-se de forma brilhante não só no final como também nos próprios ensaios, conquistando os aplausos merecidos onde quer que fosse sua apresentação.
O show da escola era baseado no tema-enrêdo passado, homenageando o grande general e herói Zumbi dos Palmares. O herói negro foi vivido pelo César, que ficou com o apelido do herói brasileiro. Pode-se afirmar com segurança que este foi o grande marco que deu origem aos movimentos negros em Santa Maria, contra todo e qualquer tipo de discriminação racial e social. A Vila Brasil e ao trabalho do Osman deve-se o grande começo destes movimentos.
Em meados deste mesmo ano, o Osman abre o leque na sua diretoria e convida para participarem da mesma, entre outros, o Iguassu Tadeu Larangeira (Su) e João Caçapuz Flores (João Cacha), onde lhes atribui poderes iguais ao de presidente. O Iguassu assume a parte de finanças e o Cacha vice-presidência da escola. Sonia inicia sua brilhante passagem pela Vila Brasil com sua ala. Surge a Ala do Musico, somente composta por crianças e também a figura do Bagre (João Venício Carvalho) com seu bastão que tornou-se famoso. Ensaios no Clube Elite. Presidente e carnavalesco: Osman; figurinista: Teresa; Mestre de bateria: Dorval; intérprete: Ledi do Perico.
A Vila vem para o desfile no carnaval (1974) com o tema e samba-enrêdo “Descobrimento do Brasil” de autoria do Osman e do Antônio Carlos Machado. Neste carnaval a escola volta a contar com a batuta do mestre Dorval, o Renatinho sai da Vila e junta-se ao Gilson Glória e fundam uma outra escola de samba em Santa Maria, a Unidos do 13 de Maio, agregada ao clube do mesmo nome. A puxadora de samba-enrêdo, primeira na Vila e em Santa Maria, foi a Ledi do Perico. Aí começa a se revelar a Sônia como uma grande passista, desfilando junto à sua ala.
Quando nós saíamos para ensaiar nas ruas principais da Vila Oliveira, em algumas ocasiões o Machado e o seu irmão, coronel José Antônio vinham com os seus carros, iluminando a rua para podermos ensaiar, pois estas eram muito escuras. Também, durante um dia da semana, logo após os ensaios, era sorteada a casa de um diretor e lá fazíamos um chá com a presença de quem quisesse participar, e todo mundo cooperava com frios, bolos, etc.
Nos dois últimos meses, anteriores ao carnaval, havia muito o que fazer na escola, principalmente para recuperar instrumentos, confeccionar adereços, alegorias e fantasias, etc, etc, e alguns dos nossos componentes até largavam os seus empregos para ajudar a escola, eles ficavam o dia todo trabalhando para a Vila. Aí, um grupo se cotizava e levantava uma determinada importância para ajudá-los no rancho, aluguel, e demais despesas da sua família.
Nesses dias, a Zilda Flores não media esforços em alcançar-nos por sobre o muro da sua casa, que ficava vizinho à quadra de ensaios da escola, alguns pratos apetitosos. Todo mundo trabalhava com muito amor pela escola, mas houve um momento pouco antes do desfile, que estávamos todos desesperados, pois a fantasia da bateria não havia sido entregue pela costureira, esta ainda não havia sido paga, e por essa razão não a entregava. Encontrávamos na casa do Osman, já fantasiados e dando os últimos retoques, quando apareceu o Iguassu nos acalmando, pois o mesmo tinha pago a costureira dando um cheque seu. Quase todos os antigos diretores já pagaram de seus bolsos muitas dívidas da escola, uns mais, outros menos.
Há uma série de situações importantes neste desfile da escola, tais como: A inovação com três puxadores de samba; a Ledi, o Jacelino e o Zeca. Foi apresentado um show em plena avenida (naquela época estas coisas eram permitidas), “A morte da porta-bandeira” escrito e dirigido pelo Osman, tendo como protagonistas, a Léa (porta-bandeira) e o Caeté (mestre-sala). É notável a interpretação da Ledi ao cantar uma canção do Osman homenageando a Marilene, a porta-bandeira. O cinema brasileiro na época havia lançado um filme do diretor e produtor francês, Camus, o “Orfeu do Carnaval”; protagonizado por Marpessa Dawm, Breno Melo e Waldemar Ferreira da Silva, campeão olímpico em salto tríplice, provavelmente o Osman tenha se inspirado nesse filme.
Neste desfile acredito que tenha visto a melhor pastora de todos os tempos na avenida, ou seja, a Vânia, mãe daqueles que se tornariam mais tarde, uns dos melhores batuqueiros de Santa Maria, o Bebeto, o Gon, o Nenê e o Cao Barbosa, todos filhos também do grande Miro da Cuíca. Ela conseguiu unir a graça da dança com o sorriso expontâneo de quem realmente queria transmitir alegria, felicidade e acima de tudo a transparência de uma cultura vinda do além mar.
Outro fato tocante, foi quando a Vila vinha subindo a avenida Rio Branco, no dia do desfile oficial, bem em frente à Catedral, a bateria começou a desafinar. Foi quando o Zeca começou a puxar um samba de quadra, sucesso do Jair Rodrigues na época. O samba começou lento, quase inaudível, mas seguro na voz, ele foi entrando e calando no ouvido de todo mundo. Todos cantavam, a bateria voltava a sua batida forte e harmoniosa, e para completar o Jacelino logo em seguida entra com outro samba mais quente, e aí não se tem mais palavras para dizer da beleza desde momento que com certeza ficou gravado nas nossas cabeças por toda a vida. Quem estava lá sabe disso, e jamais vai esquecer este momento. Ainda neste ano a Vila cria o primeiro grupo de pagode em Santa Maria, formado pelo Miro Barbosa, Edson Sapo, Dorval, Perico, Wilmar, Jacelino, Zéca e no cavaco o Nego Bode. Ensaios no Clube Elite. Presidente e carnavalesco: Osman; Figurinista: Teresa; Mestre de bateria: Dorval.
Em 1977 com a licença do Cacha da presidência da escola, assumiu seu irmão Jaime Costa Flores, hoje o rei momo da cidade. A Vila foi brilhantemente campeã com o tema e samba-enrêdo “Mãe Iemanjá” do Osman. Novamente destaca-se o trabalho da Teresa. A puxadora de samba foi a Sara, irmã do Fumaça, o Ciro Antônio Rosa, figura simpática e folclórica da escola. Neste ano a escola começou a ensaiar em janeiro na casa do Gabriel na Vila Carolina. Ficou apenas 10 (dez) dias neste local, voltando para a Vila Oliveira, fixando-se na casa do Peéco e da Jurema.
O curioso é que para sair da casa do Gabriel, que era muito temperamental, o mestre Dorval e o presidente Jaime, usaram de um ardil até engraçado, num dia de ensaio eles disseram ao Gabriel que a escola precisava dar uma saída para a rua, afim de começar a preparar melhor a bateria no andamento do ensáio, se usava muito isso naquela época. Eles deram instrumentos a todo mundo, não sobrou nenhum, foi entregue até a quem não sabia tocar, o Gabriel desconfiou, mas não poderia tomar qualquer atitude, pois era um ensaio.
No momento que estavam na rua tocando, eles foram andando, andando, andando, até chegar a casa do Peéco, e jamais voltaram à casa do Gabriel, nem para lhe dizer o novo endereço. Foi a única maneira de se verem livre do temperamental Gabriel. Também ficou na história da escola, este cômico ensaio.
No mês de março deste mesmo ano houve eleição, sendo eleito por aclamação o Osman Ramos Corrêa. Neste carnaval não vemos mais as presenças do Caeté e da Léa, grande casal de mestre-sala e porta-bandeira, onde entendemos terem sido os melhores de todos os tempos em Santa Maria. Mas surge outro casal, os irmãos Guiguico e Cacaia. Paulo César Almada dos Santos e Carmem Almada dos Santos, ele oriundo do Unidos do Treze de Maio, e ela do Unidos do Itaimbé. Em mais de uma década foram os mais brilhantes mestre-sala e porta-bandeira da cidade. Neste ano, registre-se o grande trabalho de ensinamento a este casal de irmãos, através do Osman, que sob a sua liderança, começava-se a elaborar também nesta época, o Estatuto da escola, tornando-se a primeira escola de samba em Santa Maria a existir estatutariamente.
Em maio de 1977, mais precisamente no dia 06, o Cacha e o Morcego (Ismael Rodrigues), esposo da Marina, ex-jogador do Internacional de Porto Alegre, Avaí de Florianópolis, Riograndense e Inter-SM, em pleno bar Sarau, na rua Vale Machado, próxima á rua Floriano Peixoto, fundaram o time de veteranos da Vila Brasil, cuja primeira disputa foi num ginásio no bairro Camobi, próximo à indústria Kipper, onde participamos de um torneio de futebol de salão, patrocinados por políticos da época, João Gilberto e César Schirmer, que doaram ao time dois ternos de camisetas (um vermelho com a gola branca e outro o inverso), as camisetas vermelhas doadas pelo João Gilberto foram adquiridas na Casa Rio, tradicional loja de artigos esportivos em Santa Maria, situada no início da rua do Acampamento. As outras camisetas brancas doadas pelo Cézar Schirmmer, foram adquiridas em outra loja. O primeiro jogo de futebol de campo foi na Vila Oliveira, no campo do Madureira, onde jogaram os veteranos da escola com um grupo de jovens liderados pelo Zigomar e o Maninho (Miguel). Ensaios na casa do Peéco e Mãe Jurema, na Vila Oliveira. Presidente: Jaime Flores; samba-enredo: Osman e Machado; Mestre de bateria: Dorval; Intérprete: Sara.
Em 1979 sob o comando agora do Machado, a escola foi a grande campeã, trazendo para a avenida pela primeira vez, o luxo nas fantasias de mestre-sala e porta-bandeira. O tema-enrêdo “Santa Maria, Décadas de 30 e 40” da Noemi Domingues. Samba-enrêdo do Machado e Setembrino, tendo como puxadores a Inésia e o maestro Setembrino (cavaquinho). O figurinista foi João Goldmann. O mestre Dorval e o Miro da Cuíca criaram novos “breques” e consequentemente, um novo ritmo dando um compasso mais rápido ao samba, vindo do Rio de Janeiro. A bateria da Vila assimilou rapidamente, principalmente na batida da mão esquerda no tarol e caixa de guerra. A introdução do repinique, substituindo o contra-tempo, dando maior harmonia e segurança na marcação. A diminuição dos chocalhos, etc, etc. A Vila é a grande inovadora novamente do ritmo das baterias em Santa Maria. Neste desfile surge a primeira ala show da escola, comandada pelo Zigomar e Miguel. Destaca-se também a ala do Fernando Michel. Ensaios na casa do Peéco. Presidente: Machado; intérpretes: Inésia e Setembrino; figurinista: João Goldman; Mestres de bateria: Dorval e Miro.
Em 1980 foi brilhantemente bi-campeã com o tema-enrêdo “A Dança das Flores” de autoria de João Cacha. Samba-enrêdo do Machado e do maestro Setembrino. O presidente e carnavalesco foi o Machado. Puxadores, a Inésia e Setembrino. Figurinista o João Goldmann. Pela sua garra na avenida, a Vila ganhou neste carnaval o nome de “Pantera da Asfalto”. Em março deste mesmo ano, foram eleitos presidente e vice-presidente respectivamente: Cacha e o Miguel dos Santos. Ensaios na casa do Peéco. Presidente: Machado, Intérpretes: Inésia e Setembrino; figurinista: João Goldman; carnavalesco: João Cacha.
Em 1981 tornou-se tri-campeã pela segunda vez em sua história, com o tema-enrêdo “Homenagem às Escolas de Samba do Rio de Janeiro” da Marina, carnavalesca deste ano. A Vila apresentou pela primeira vez em Santa Maria, e ainda raro no Brasil, uma comissão de frente composta apenas por moças, criando uma grande polêmica na cidade, Samba-enrêdo do Paulo Carús e maestro Setembrino. Puxadora de samba a Inésia. Figurinista o Tadeu Fioravante que desfilou com a fantasia que sagrou-se campeã estadual em luxo na cidade de Porto Alegre em 1981. Destaca-se neste carnaval, o trabalho de alegorias do seu Oscar Campos, onde foi confeccionado pela primeira vez na Vila para desfile como abre-alas o pavão, idéia originada pelo Gígia (Luiz Carlos Campos) seu filho, componente antigo da escola, tornando-se outro símbolo da escola a partir deste ano, criando uma grande polêmica com alguns antigos componentes que não abriam mão do casal de sambista no desenho do estandarte original.
A idéia de criação do pavão surgiu na casa do Cacha em janeiro deste mesmo ano (1981), na rua Visconde de Pelotas em frente ao antigo “Beco do Sabão”. Nós desejávamos abrir os desfiles da Vila com um abre-alas que representasse a verdadeira filosofia da nossa vida na Vila, ou seja, identificasse o grande orgulho da sua existência e das suas glórias e a simplicidade do seu povo. O Luiz Carlos Campos (Gígia) entendeu que o pavão representava tudo isso, pela beleza da sua plumagem e do grande leque quando aberto e a rudeza e simplicidade dos seus pés, formando um contraste com estas duas grandezas (beleza e simplicidade).
Este foi o último ano que a escola ensaiou na casa do Peéco (Wladimir Machado) e da Jurema Machado. A Vila Brasil deve muito a eles. Foi um período de glória e de identificação com a nossa verdadeira filosofia de vida. Neste carnaval iniciou como relações públicas, o Luiz Otávio (Tavico). Acreditamos que, provavelmente tenha sido o melhor comunicador da escola. Ele fez este trabalho durante alguns anos.
É digno de registro a abnegação à Vila Brasil, do casal Peéco e Jurema, juntamente com a sua família e amigos, em todo o tempo que a escola esteve em sua casa. Eles durante nada menos do que cinco anos (1977 – 1981) seguraram a peteca sem deixar cair. Todos nós sabemos que ter junto à sua casa uma escola de samba é ter também consigo toda uma gama de problemas, principalmente ter que lidar com o mais variado tipo de pessoas, e acima de tudo, perder quase que totalmente a sua privacidade. Só quem conhece e vive dentro de uma escola sabe a profundidade de tudo isso. Aqui, a nossa saudação, o agradecimento e o respeito a todos aqueles que tiveram a Vila Brasil dentre de suas casas. Ensaios na casa do Peéco. Samba-enredo de Machado, Setembrino e Paulo Carús. Intérprete: Inésia; figurinista: Tadeu Fioravanti; presidente: João Cacha.
Em 1982, a Vila conseguiu o seu maior título, o de tetra-campeã do Carnaval de Santa Maria, com o tema-enrêdo “Maria Fumaça” do grande historiador e teatrólogo de Santa Maria e do estado, Edmundo Cardoso. Samba-enrêdo do Paulo Carús e música do Alegrete, natural da cidade que lhe empresta o nome. O que marcou no desfile foi a alegoria representando a “Maria Fumaça”, um protótipo confeccionado nas oficinas da Viação Férrea. Era uma perfeição. Deve-se este trabalho à dedicação e desprendimento do Paulo Carús e Fernando Michel e equipe. Hoje ele mora no Rio de Janeiro. Um fato curioso na confecção, é que foi feita por um ferroviário conhecido nosso, o Chorinho que pertencia ao Acadêmicos do Samba, nosso grande rival da época. Com a inexistência da sua escola, ele juntamente com seu irmão o Roque, se juntaram à Vila, hoje são grandes batalhadores da escola. O Chorinho nas confecções das alegorias e o Roque como um dos diretores da Bateria. O importante neste carnaval, foi que ganhamos com apenas um ponto de diferença, justamente do Acadêmicos, provando o grande profissional que era o Chorinho, hoje aposentado.
Neste mesmo ano, a escola foi ensaiar no bairro Itararé, na rua em frente à casa do Guiguico, do João Almada e da Cacaia, ficando a sua casa como sede da Vila, gentilmente cedida por estes abnegados. O presidente e carnavalesco foi o Cacha, recebendo orientação do carioca Vamberto, o Beto, que morava em frente à casa do Dorval e da Marina na rua Duque de Caxias no bairro Rosário. Ele pertencia à uma firma com sede no Rio de Janeiro, que montava centrais telefônicas na América do Sul. Morou em Santa Maria, por cerca de uns quatro anos. Voltou e reside na sua terra o Rio de Janeiro, desfila na Velha Guarda do Império Serrano. Foi figurinista a Vera com ótima passagem na Vila Brasil. Puxadora do samba-enrêdo, a Inésia. Diretor de harmonia, oficialmente pela primeira vez na Vila, foi o Sérgio Dalton Couto. Já havia nos desfiles anteriores mas sem a responsabilidade única deste trabalho. Neste carnaval foi fundada a ala da Vitória, homenageando à dona Vitória. Foi a primeira a criar regimento interno próprio, e filiar-se oficialmente à escola. A fundadora e primeira diretora era a Jackeline, filha do major Nonoay e da dona Heloisa. Em março de 1982 foi eleito presidente da Vila Brasil, Paulo César Almada dos Santos, o Guiguico, e seu vice-presidente o Rejan Nunes. Ensaios na casa dos Almada, no Bairro Itararé. Presidente e carnavalesco: João Cacha com o auxílio de Vamberto; Figurinista: Vera; Intérprete: Inésia; diretor de Bateria: Dorval.
Em 1984 homenageando no tema-enrêdo o Agenor “Rei de Brinquedo”, carnavalesco o Luiz Otávio (Tavico), Cacha como diretor de harmonia, o Dorval como diretor de bateria, como puxadores do samba, começava aí a dupla: Ronaldinho e Fando. A Vila sagrou-se a grande campeã do carnaval. Com a renúncia do Guiguico assumiu neste carnaval, Rejan Nunes. Samba-enrêdo do Paulo Carús, Miguelzinho da Praiana e Medina do Imperadores. O destaque neste carnaval foi o desfile do Agenor, acreditamos tenha sido o fator mais significativo deste carnaval de 1984, e com certeza um dos mais brilhantes desfiles que alguém tenha feito nesta cidade.
A Vila ensaiou no famoso “Buraco Quente”, apelido dado pelos próprios componentes da escola, terreno de propriedade do Celso, filho do major Nonoay, que gentilmente cedeu à escola até o ano de 1986. Foi talvez a primeira oportunidade que a Vila Brasil esteve junto ao seu local de fundação.
Outro fato marcante neste carnaval foi a entrega do estandarte da escola para a rainha, já que era uma tradição da Vila nos seus desfiles a rainha carregar o Pavilhão da escola. Para surpresa de todos que ali estavam, a nossa rainha negou-se determinadamente a carregar o estandarte. O desfile já havia começado e estávamos apavorados, eis que o Iguassu comunicar ao Cacha que a Mana estava ali ao nosso lado e o grande sonho dela era desfilar como porta-estandarte da Vila Brasil.
A nossa gratidão foi tão grande que, naquele momento demos à ela o nosso Pavilhão para desfilar e que poderia como agradecimento nosso ficar para si como recordação daquele ano histórico em que a escola estava fazendo o seu jubileu e como se não bastasse, estávamos homenageando a nossa maior glória de todos os tempos, o Agenor, emérito fundador da Vila Brasil. A Mana é filha de um dos mais abnegados e apaixonados da Vila, Antônio Augusto, o Manteiga. Presidente: Rejan Nunes; carnavalesco: Tavico; diretor de Harmonia: João Cacha; Diretor de Bateria: Dorval; Intérpretes: Ronaldinho e Fando.
Em 1987 a Vila voltou a realizar um grande desfile, sagrando-se campeã da cidade, juntamente com a Unidos do Itaimbé. O destaque neste carnaval foi o trabalho do grande artista plástico e professor universitário Wagner Dotto, auxiliado pelo Marcelino, juntamente com o brilho do desfile do maestro Setembrino defendendo o samba-enrêdo que fez em parceria com o Machado.
Neste carnaval desfilou pela primeira vez na escola, a Ala da Velha Guarda, onde foi o Cacha seu diretor e fundador. O Miro havia lhe passado que tinha sido avisado pelo seu “Santo de Religião”, que a escola só ganharia o carnaval se houvessem “Os Pretos Velhos” no desfile. Neste ano o Dorval não estava mais dirigindo a bateria da escola, assume em seu lugar o Ben-Hur Barboza, filho do Adolfo Valdir Barboza, o popular Didi, um dos fundadores da Acadêmicos do Samba, grande nome do mundo sambista. E da Rosinha, uma das melhores pastoras do carnaval da cidade, e que foi integrante assídua da ala das baianas da Vila Brasil. A Vila através da criação do Miro Barboza e da Maria Helena, sua esposa, realiza pela primeira vez em Santa Maria, a “Noite das Estrelas Negras”, uma festa de gala onde são homenageadas figuras negras que despontam na sociedade santamariense e gaúcha. Presidente: Yara Pavão; carnavalescos: Marcelino e Vagner Dotto; intérpretes: Setembrino, Ronaldo e Fando; Diretor de Bateria: Ben-Hur.
Em 1993 com tema que homenageava os ranchos do 13 de Maio e União Familiar, duas grandes e históricas sociedades dos negros em Santa Maria, a Vila tira um brilhante 1º lugar no desfile do 2º Grupo e voltava triunfante para o 1º Grupo. Temos aí o excelente trabalho da Nilza Moura como presidente da escola. Filha de um casal tradicional da comunidade negra da Boca do Monte, José Moura e Dora Moura, a Nilza conseguiu realizar uma coisa muito importante, foi o de fazer com que vários seguimentos da Vila voltassem a trabalhar juntos, pelo menos ela teve merecidamente a simpatia e o reconhecimento das duas principais alas, ou seja, das baianas e bateria. O samba escrito pelo Machado e a música de autoria de Cacha, com arranjos do Zigomar e do Nêgo Zero, a bateria com o mestre Gon, puxadores: Zero, Fando e Nêgo. No cavaquinho o Zigomar e nos figurinos a Cristina Parrot e a Ivelise Flores. Presidente: Nilza Moura; carnavalesco: Cacha; figurinistas: Cristina Parrot e Ivelise Flores; Diretor de Bateria: Gon; Intérpretes: Zero, Fando e Nego.
A grande campeã do Carnaval de Rua 2014 de Santa Maria foi a Vila Brasil. A escola de samba somou 199 pontos com o tema ‘Na Cauda do Pavão, Um Sonho de Carnaval! Salvador Isaia, Uma Inspiração’.
A Vila Brasil homenageou os 80 anos do Jornal A Razão. Cantando “Extra! Extra! Com toda A Razão… É Vila na cabeça!”, conquistou nota dez em seis categorias. A escola ficou em 4º Lugar.
Relembre como foi o desfile em Santa Maria: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/videos-jornal-do-almoco/video/carnaval-de-rua-2015-em-santa-maria-4034670.ghtml




